quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Francisco de Assis Pereira


Em 5 de julho de 1998, a polícia de São Paulo encontrava os primeiros corpos que a levariam a suspeitar de que um serial killer estava à solta. Eram quatro cadáveres de mulheres estranguladas, todos despidos - na verdade, um só de calcinha - de bruços e com as pernas afastadas, posição típica de vítimas de estupro. Todos encontrados, de uma só vez, no Parque do Estado, uma reserva florestal de 550 hectares na Zona Sul de São Paulo, na divisa com o município de Diadema. Como peças de um quebra-cabeça, esses corpos se somariam a outros dois achados, isoladamente, em janeiro e maio daquele ano, quando ainda não se suspeitava de que um maníaco estivesse em ação. Mais dois corpos foram localizados no dia 28 de julho de 1998.Vasculhando os arquivos da delegacia da região, a 97º DP, investigadores da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) descobriram três casos de tentativas de estupro entre maio de 1996 e dezembro de 1997 no parque. As três mulheres que conseguiram escapar do ataque ajudaram a polícia a fazer um retrato falado daquele que se tornaria o principal e único suspeito dos crimes. O maníaco convencia suas vítimas a ir espontaneamente com ele até o parque.Uma denúncia anônima levou ao nome do suspeito. Francisco de Assis Pereira, de 31 anos, morava em Santo André, no ABC Paulista, e, até fugir, trabalhava como entregador (motoboy). No início de 1998, ele tinha sido investigado pelo desaparecimento de uma namorada. O sumiço até hoje não foi esclarecido. Em 1995 o motoboy chegou a ser preso por tentativa de estupro em São José do Rio Preto, mas pagou fiança e foi libertado. A primeira prova material contra Francisco foi obtida no dia 24 de julho de 1998: a identidade de uma das vítimas do parque foi achada num vaso sanitário entupido da empresa em que o entregador trabalhava. Várias mulheres reconheceram no retrato falado o rosto do homem que as atacou. Durante a sua fuga, Francisco foi visto em Ponta Porã (MS) e suspeitou-se de que ele tivesse passado pelo Rio de Janeiro. Fotos suas chegaram a ser espalhadas nos principais parques da cidade.O motoboy Francisco de Assis Pereira foi preso às 20h15m do dia 4 de agosto de 1998 na cidade gaúcha de Itaqui, perto de Uruguaiana, na fronteira com a Argentina. Francisco foi preso pela Brigada Militar quando tomava banho na pensão do pescador João Carlos Dornelles Vila Verde. A mulher do pescador, que reconhecera o suspeito, foi quem chamou a polícia. Apesar de não ter resistido à prisão, o Maníaco negou ser o autor dos crimes. Disse na delegacia de Itaqui que esteve escondido, antes, na Argentina, tendo ido até a Buenos Aires. Francisco chegou à casa do pescador no início da noite, pedindo para tomar um banho. Segundo a mulher do pescador, ele estava na região, pescando no Rio Uruguai, já fazia uma semana. O suspeito, que usava cavanhaque, pediu para tomar um banho afirmando que atravessaria o Rio Uruguai de balsa para se encontrar com uma namorada na cidade argentina de Alvear, de dez mil habitantes.Disse que queria encontrar a namorada "limpo e cheiroso". A mulher do pescador atendeu ao pedido, mas, desconfiada, pediu ao filho mais novo que revistasse os pertences do inesperado hóspede. Ela contou à polícia ter desconfiado dele por causa da semelhança entre o visitante e as fotos que vira na TV. Nos pertences de Francisco, ela encontrou a identidade e fotos de mulheres. O cabo Jesus Laciri de Lima Carneiro, que atendeu ao telefonema, seguiu para a casa do pescador com mais três policiais. Dentro da mochila do suspeito foram achadas passagens de ônibus de duas empresas do Oeste do Paraná, o que confirma a suspeita da polícia paulista de que ele tinha passado por aquele estado em direção ao Sul. Após ser preso, o motoboy se manteve calmo. Ele contou à polícia que, do Paraná, pegou carona num caminhão até o Rio Grande do Sul, seguindo depois para a Argentina. Francisco disse que teve de sair de Buenos Aires, onde estava com uma mulher, "porque seu visto estava vencido" (na verdade, a Argentina não exige passaporte de brasileiros). Ele não deu informações sobre essa mulher. A notícia da prisão encheu de curiosos a rua da pequena delegacia de Itaqui, cidade de 30 mil habitantes. O motoboy Francisco de Assis Pereira agia de forma dissimulada e cruel: abordava as mulheres na rua e as convidava a irem até o Parque da Cidade, para que supostamente posassem como modelo em fotos para propaganda de cosméticos. Lá, ele estuprava e matava as vítimas. Após ser capturado pela polícia, o que mais impressionou as autoridades foi como alguém feio, pobre, sem muita instrução, não portando revólver ou faca, conseguiu convencer nove mulheres, algumas até de classe média-alta e nível universitário, a subir na garupa de uma moto e ir para o meio do mato com um homem que tinham acabado de conhecer. Ao ser interrogado, o Maníaco do Parque relatou que, para isso, bastava falar aquilo que as mulheres queriam ouvir. Francisco cobria todas de elogios, se identificava como um fotógrafo de moda de uma revista importante procurando novos talentos, oferecia um bom cachê e convidava as moças para uma sessão de fotos em um ambiente ecológico. Dizia que era uma oportunidade única, algo predestinado, que não poderia ser desperdiçado. Nos nove primeiros dias de prisão, ele ficou trancado numa cela no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em São Paulo, sendo transferido para a Casa de Custódia de Taubaté por questão de segurança. No dia da transferência, em agosto de 1998, mais de 200 pessoas tentaram linchá-lo. Em setembro de 1999, o Maníaco do Parque foi condenado a 121 anos de prisão, pelo estupro de uma mulher e violência sexual e roubo contra outras dez, além de atentado ao pudor. Com essa pena, os demais julgamentos a que ele foi submetido pelo assassinato de outras nove mulheres foram apenas simbólicos, pois ele já foi condenado a uma pena superior à do tempo màximo de cadeia permitido pela legislação brasileira, que é de 30 anos. Em todos os julgamentos a que foi submetido, o Maníaco, que confessou ter matado 11 mulheres - embora só nove corpos tenham sido encontrados - afirmou que matou por "inspiração maligna". Os debates entre acusação e defesa tiveram como pauta a saúde mental do réu e sobre sua consciência de estar cometendo um crime. Enquanto esteve preso no presídio de Taubaté, que abrigava os criminosos mais perigosos do Estado de São Paulo, Francisco chegou a ser dado como morto numa rebelião de presos ocorrida em dezembro de 2000. Mas, após uma série de desencontros, a direção da unidade confirmou que o motoboy, jurado de morte pelos outros presos, estava vivo.
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Os livros "Caçada ao Maníaco do Parque", de Luísa Alcade e Luís Carlos dos Santos e
O Julgamento de um Serial Killer (O caso do maníaco do parque), de Edilson Mougenot Bonfim são baseados nesses acontecimentos.


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